Selma Uamusse: "(Na minha música,) às vezes há alegria, às vezes há dor. Outras vezes há contemplação, há tristeza, e, às vezes, nostalgia."


17 de Janeiro, 2023   /   583
Auditório de Espinho | Academia

São várias as línguas de Moçambique: é Chope, é Changana e Chuabo, é Macua e Manica, é Ndau e Nianja, é Sena, Suaíli, Suázi e Zulo e é, também, Português.

Selma Uamusse, moçambicana a viver em Portugal desde 1988, vai pisar o palco do Auditório de Espinho | Academia, no seu primeiro concerto de 2023, este sábado, 21 de janeiro, pelas 21h30, onde terão destaque os seus últimos dois álbuns Mati que significa “água” em Changana e, o mais recente, Liwoningo que significa “luz” em Chope.

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O que representa a música na cultura de Moçambique, sendo ela uma das maiores e mais importantes manifestações culturais do país?

A música moçambicana é muito vasta, indo desde a música com cariz mais ancestral, ligada à música tradicional, até à mais moderna. Para mim, a grande importância da música moçambicana está na sua enorme riqueza, no que diz respeito às polifonias, e às polirritmias que estão mais ligadas à música tradicional. Há, também, uma ligação muito forte com a dança, além da já interligação normal entre dança e música, mas, acima de tudo, a música moçambicana é uma manifestação cultural que começa como manifestação social.

A maior parte da música moçambicana reflete muito aquilo que é a vivência e o dia-a-dia, os ritos e os rituais diários do quotidiano moçambicano, mas também daquilo que é o reflexo da forma das pessoas verem, ou estarem e sentirem. Por isso, ela é todo um triângulo entre a música - o lado estético, e tudo aquilo que é a música mais formal, - mas é, também, a forma como se cruza na dança, ou como a dança usa a música, e como a música usa a dança, além deste lado social, de manifestação social. Acho que devo colocar a música de Moçambique pelo menos nestas três linhas. E ela é, sem dúvida, uma das grandes manifestações culturais e mais importantes do nosso país. Temos a Timbila (instrumento tradicional moçambicano da família dos xilofones) que é património imaterial da humanidade, e uma série de instrumentos que estão, neste momento, a ser classificados e que são únicos. Considero que essa especificidade torna essa música muito peculiar, sem esquecer obviamente as nossas línguas que, sendo de origem bantu, não são línguas tão familiares no contexto internacional e, por serem tão particulares, acabam também por dar origem a melodias e sonoridades que tornam a música moçambicana particular.

Liwoningo é um disco que acentua esse património imaterial africano, principalmente o de Moçambique. Mas a música de Selma Uamusse também é jazz, também é soul, também tem toques de rock. Onde posiciona a sua música e o seu estilo?

O disco Liwoningo é, sem dúvida, uma extensão daquilo que eu vejo, de contemplação, daquilo que a música moçambicana me diz, mas o Liwoningo é, também, o continuar de uma verdade muito inevitável para mim - sou moçambicana, mas cresci a partir dos 6 anos até agora em Portugal, completamente influenciada, inicialmente, pela música sul americana e europeia. Portanto, o disco é uma extensão de quem eu sou e daquilo que também é a minha formação musical - tenho formação em jazz, e fiz muitas outras coisas. Se fizesse um esquema do meu ADN musical seria, de certo, muito diverso. Vejo-me como moçambicana e como cidadã do mundo e, por isso, não consigo posicionar a minha música num determinado estilo. É a música da Selma Uamusse, porque sou eu que a faço, sou eu que a sinto e sou eu que dito também quais são os cânones.

"Miculungwana" é um grito de dor ou de alegria expressado por uma mulher - vê a sua música como esse grito que expressa alegria ou dor?

Sim, é um grito de dor, é um grito de alegria. Tenho muita dificuldade em fazer canções com médio tempo, diria. Eu localizo-me nas extremidades. Portanto, tanto é importante termos um lado muito contemplativo e mais calmo, como me é importante manifestar alegria, e manifestar força. Então, a minha música é, sem dúvida, o reflexo dessa expressão, da alegria ou da dor, que, para mim, é sempre vivenciada de uma forma intensa. E acho que a intensidade para mim, na minha música, é muito importante. Às vezes há alegria, às vezes há dor. Outras vezes há contemplação, há tristeza, e, às vezes, nostalgia.

O que podemos esperar do concerto de 21 de janeiro, no Auditório de Espinho | Academia?

No concerto do Auditório de Espinho | Academia, temos dois álbuns para vos mostrar - o Mati e o Liwoningo - este útimo que, por causa da pandemia, não viajou tanto como poderia ter viajado. Considero que existe muita coisa para experimentar e cada concerto é único, e os convidados serão contagiados com a nossa alegria, e com toda a nossa dor. Eu espero que este concerto de Espinho, que será o primeiro de 2023, possa ser um ajuntamento: quem tiver frio que se junte, quem precisar de uma música intensa que se junte - mas se precisar de chorar e sorrir também, junte-se. Acima de tudo, estarmos juntos é o que podemos esperar do concerto de 21 de janeiro.

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Fica o convite para um concerto de línguas, dores e alegrias, de ritmos e polirritmias, o concerto de Selma Uamusse.

Os bilhetes para este concerto estão à venda aqui ou na bilheteira local, na Academia de Música de Espinho.

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