Roger Eno, músico e compositor britânico, lançou o seu primeiro álbum a solo com o selo da Deutsche Grammophon, The Turning Year, este ano. Em 2020, pela primeira vez, gravou o primeiro disco exclusivamente com o seu irmão, compositor e produtor, Brian Eno, intitulado Mixing Colours. Além disso, colabora com vários artistas e, ocasionalmente, compõe bandas sonoras para filmes.
Passam sete meses desde o lançamento de The Turning Year e é ao Auditório de Espinho | Academia que o vem apresentar, no âmbito do festival itinerante Misty Fest, esta quinta, 24 de novembro, pelas 21h30. Hoje, em entrevista, Roger Eno apresente o álbum com palavras.
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Como surgiu este projeto a solo?
Como sempre, desejei lançar um disco unificado em que as peças estivessem relacionadas umas com as outras - queria criar um álbum que implementasse a transitoriedade, a passagem das coisas e manter uma distância com o "mundo quotidiano". Desejava investigar aspetos do meu interior - e, talvez, do interior dos outros.
Sobre o nome do álbum The Turning Year. Que viragem é essa? Foi um acontecimento que provocou um momento de viragem? Ou é sobre a mudança de ano, por exemplo, de 2021 para 2022?
É, parcialmente, cronológica, mas não se baseia no 'tempo do relógio' – é sobre o desaparecimento e reaparecimento das estações, da memória e das memórias, tem a ver com o meu próprio interesse pela história (ou pelo passado) como uma força frequentemente escondida nas nossas vidas do presente.
Li, no seu website, que o seu processo criativo passa pela “decomposição”. É o The Turning Year também uma decomposição das facetas em que/com que vivemos e uma decomposição de histórias?"The Turning Year é como uma coleção de contos ou fotografias de cenas individuais, cada uma com a sua própria personagem, mas, de alguma forma, intimamente relacionadas umas com as outras. Estas peças permitem-nos, talvez, pensar em como vivemos as nossas vidas com facetas, como caminhamos através delas, como temos vislumbres fugazes, como percecionamos the turning year ". - Roger Eno
No meu processo criativo, a 'decomposição' retira e edita o que muitas vezes são improvisações gravadas - utilizo o silêncio como instrumento e/ou declaração e, muitas vezes, é fácil, no início, 'dizer demasiado'. Assim, apago notas e talvez fases que não são inteiramente necessárias. Isto tem dois efeitos benéficos: o primeiro é que as peças são muito mais desordenadas e, felizmente, desprovidas de demonstrações inúteis de virtuosidade (ou ego) e, em segundo, convida o ouvinte a participar no processo de composição, uma vez que os silêncios permitem que os próprios pensamentos sejam ouvidos.
O piano é uma espécie de narrador - conta uma história em cada música. Se o piano é o narrador, pode o conjunto de cordas ser considerado como personagens destas histórias?
Estou muito consciente das possíveis implicações "políticas" da escrita de música. É possível criar uma dinâmica 'Mestre/Servente', onde toda a orquestra se subordina, digamos assim, a um violoncelo ou a um instrumento a solo. É, igualmente possível, escrever música que se esforça por uma certa igualdade dentro da orquestra e, de um modo geral, é com esta última que me sinto mais à vontade. Desenvolvi uma técnica de composição em que o compositor se limita a escrever uma série de notas e encoraja os músicos a transformá-las numa peça única. Isto é feito por um consenso não verbalizado, ouvindo-se uns aos outros e tentando misturar-se harmoniosamente. Tenho descoberto que este é um processo libertador para os músicos habituados apenas a tocar o que está escrito numa partitura.
Portanto, tudo é narrador, tanto as cordas, como o piano. No concerto do Auditório de Espinho | Academia estará a solo. Como é estar sozinho com o piano em palco?
Sempre adorei escrever para imagens visuais - pintura, teatro e cinema - e há alguns anos atrás decidi trazer esta área para a atuação a solo. Adoro tocar a solo porque me permite vaguear inteiramente à vontade, improvisar e misturar peças umas nas outras. Acrescentando a isto, adoro o som de um piano, sustenta (aqueles 'silêncios'), a delicadeza através de um toque suave, a gama pura de frequências. É, para mim, perfeito.
Um concerto envolvente, com um filme que passa ao mesmo tempo que Roger Eno toca, sozinho, ao piano.
Os bilhetes para este concerto estão à venda aqui ou na bilheteira local, na Academia de Música de Espinho.