Roberto Negro e Émile Parisien, como duo Les Métanuits, terão três dias seguidos de espetáculos. Hoje, dia 2, estão em Roma, na Casa del Jazz. Amanhã, sexta-feira, dia 3, no Palco AdE, e, finalmente, dia 4, na Philharmonie de Paris. Estivemos, portanto, à conversa com Roberto Negro, uma conversa sobre o programa do concerto, sobre o compositor e sobre a importância da improvisação na música.
_________________
Como surgiu a ideia de fazer uma reinterpretação do trabalho de Gyorgy Ligeti? Foi um interesse mútuo? Talvez uma paixão partilhada pelos dois?
Sim, é uma paixão partilhada. Já vão fazer 10 anos. Estávamos a ouvir música juntos e começou a tocar a música "Metamorfoses Noturnas" de Ligeti. Partilhámos um com o outro o quanto somos fãs desta peça, e, em espécie de brincadeira, o Émile disse "Ok, vamos fazer algo com esta obra. Porque não?" e fizemo-lo. Fiz alguma adaptação na partitura, e juntos transformamos "Metamorfoses Noturnas" numa peça que dura entre 50 e 60 minutos. A arquitetura escrita é a mesma de Ligeti, mas com muita improvisação no seu interior. Interessamo-nos muito pela abordagem rítmica e melódica característica da obra, que se repete e reescreve, pois foi assim que Ligeti a compôs.
O que é que o atrai na obra do compositor húngaro?
Para mim, Ligeti está sempre à procura de algo novo, mas nunca esquecendo o que foi feito até esse dia. Ele escreveu coisas muito experimentais a nível de composição e considero que existe sempre algo poético. No entanto, o que me toca mesmo, o que me atrai é esse ser experimental.
"Metamorfoses Noturnas" foi escrito para ser interpretado por um quarteto de cordas. Como é convertê-lo num duo e, neste caso, num duo para piano e saxofone? Incluem improvisação?
Não é totalmente uma adaptação, embora exista bastante na parte escrita. Por vezes, está relacionado apenas com o nosso mood que depois influencia a nossa forma de tocar. Acaba por ser um arranjo, sim, mas, acima de tudo, é uma inspiração. Essa inspiração é convertida em improvisação, sendo ela uma grande parte deste trabalho, já que a peça original tem 20 minutos e, ao vivo, triplicamos a duração da mesma.
Qual é a importância da improvisação na música?
No meu método de fazer música, a improvisação é parte crucial. Antes de mais, improvisação, em inglês, deriva da palavra improve que se traduz em melhorar. Quando se improvisa música, escreve-se música. Escreve-se no momento, e não se pode reescrever porque está feito. É uma forma de compor, e existe algo de intuição, algo sobre o momento. Só podes improvisar, quando estás, de facto, a improvisar. O que eu realmente gosto é de ter música escrita, muito estruturada, e dentro dela colocar momentos de improvisação, mas de uma forma calculada e já prevista. Para mim, improvisação é adicionar alguma vida à música.
Esta não é a vossa primeira vez no Auditório de Espinho | Academia. Como é regressar a este palco como duo Les Métanuits?
Para mim é um prazer. É sempre um grande prazer voltar a Portugal. É um país realmente acolhedor. Não poderemos ficar durante muito tempo, mas, sem dúvida, que queremos e iremos voltar.
Roberto Negro, no piano, e Émile Parisien, no saxofone, voltam a pisar o palco #AdE, para uma noite onde se exploram e quebram barreiras estilísticas e um noite que comprovará a plasticidade estilística de dois dos músicos mais interessantes do jazz francês atual.
Os bilhetes para este concerto estão à venda aqui ou na bilheteira local, na Academia de Música de Espinho.