Entre o clássico e o jazz, Jeffery Davis, apresenta-se, esta sexta-feira, 17 de fevereiro, pelas 21h30, no Auditório de Espinho | Academia, na apresentação da obra Des-Concerto de Carlos Azevedo, compositor e pianista português, juntamente com a Orquestra Clássica de Espinho, sob direção musical de Pedro Neves.
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Porquê o vibrafone? Como nasce esta paixão? São as cores que o som transmite ou foi algo mais?
A paixão por este instrumento vem de algo muito simples. Quando fui estudar para o Conservatório de Aveiro, tinha algures entre os 12/13 anos, e foi o instrumento que vi e fiquei imediatamente intrigado com ele. Na verdade, foi mais pela aparência do que por outra coisa. Depois, toquei nele e fiquei encantado. Não sei bem dizer o porquê. Inclusivamente, na altura, não havia muita música escrita para o instrumento, muito menos música apelativa para uma pessoa da minha idade. Foi, assim, uma paixão abstrata, mas começou nesse dia e dura até hoje. É um instrumento que considero extremamente subvalorizado dentro da percussão, mesmo em termos de composição. Tenho muita pena que não haja mais música escrita para esse instrumento.
Está na área do jazz, e assim foi a sua formação. No entanto, tem inúmeras participações em orquestras sinfónicas. Como funciona esta junção de música jazz com a clássica?
Não faço tanto a distinção entre música jazz e a clássica, mas faço mais a distinção entre uma coisa estar mais escrita em termos de notas e ritmo, ou existir mais espaço para improvisação, isto é, em vez de ter as notas todas escritas, a articulação e o ritmo, tem cifras ou harmonia sobre a qual podemos improvisar. A maior parte da música dita escrita que eu toco, ou tem um background bastante forte do jazz, ou são músicas mais relacionadas com este estilo. A obra Des-Concerto, que tocarei com a Orquestra Clássica de Espinho, foi escrita por Carlos Azevedo que, para além de ser um compositor clássico, é, efetivamente, um excelente músico de jazz. Assim como a maior parte das obras que fui encomendando ao longo dos anos a pessoas como Daniel Bernardes, André Pinto Correia ou Óscar Graça, são pessoas com um background de jazz. Portanto, em termos de vocabulário e de material utilizado nas peças ditas clássicas que eu tenho vindo a tocar, existe sempre uma componente forte de tradição jazzística, tanto em termos harmónicos, como rítmicos. Para mim, não é uma dualidade tão grande. Esta obra tem bastante mais notas escritas do que aquelas que teria se eu tivesse a tocar um concerto de jazz, por exemplo.
Porquê o Des-Concerto de Carlos Azevedo?
Queria muito tocar uma peça para vibrafone e orquestra, dentro da linguagem do Carlos. Sou um grande fã do que o Carlos faz em termos de composição, gosto muito da sua música e da obra dele como músico jazz, inspirando-me, assim, a pedir-lhe uma peça com estas características.
Com o Jeffery Davis Quintet, foi traduzida literatura em música (Hermann Hesse e Ernest Heningway, nomeadamente). É quase como ilustrar um livro, e neste caso, é "musicar" um livro. Porquê estes dois escritores? E porquê a junção destas duas artes?
Estes dois escritores, porque, na altura em que escrevi a música para o disco For mad people only, que é um termo que retirei do livro “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse, andava a ler muito esses dois escritores que, ainda hoje, aprecio muito. Do Hemingway gosto da simplicidade das histórias. A escrita dele não é, de todo, uma escrita muito refinada. Dá mais importância à mensagem do que, necessariamente, ao vocabulário e à sintaxe. O jazz, na minha opinião, também tem um bocadinho disso. O Hermann Hesse foi um escritor que descobri, se calhar como toda a gente, através do "Siddhartha" e também fui descobrindo outros livros que estavam relacionados com essa temática da meditação, sendo uma boa forma para pensar em coisas mais profundas do que só as mais pragmáticas do dia-a-dia. Normalmente, quando escrevo uma música a pensar num livro ou no tema de uma secção de um livro, ajuda-me a voltar a refletir sobre os mesmo e sobre as suas temáticas, sendo uma uma forma de não esquecer os livros.
Como é voltar a uma casa que já foi sua? O que podemos esperar para esta noite de regresso?
Estudei na Escola Profissional de Música de Espinho (EPME) e, ainda hoje, costumo dizer que foram os melhores três anos da minha vida. Estudei e aprendi imenso com os professores da escola, ajudaram-me na minha formação como músico e ser humano. Foram três anos em que me diverti imenso e conheci pessoas muito importantes para aquilo que veio a ser o meu futuro. Tenho, portanto, um carinho muito especial pela EPME. Para mim é um prazer enorme poder voltar e partilhar a música do Carlos, no Auditório de Espinho e poder tocá-la com a Orquestra Clássica de Espinho (OCE).
Para a noite de regresso podem esperar adorar a peça do Carlos que é lindíssima. Estou muito empolgado para tocar e partilhar o palco com a OCE e trabalhar com o maestro Pedro Neves, cujo trabalho admiro imenso. Vai ser especial e espero que, para quem for, também o seja.
Celebram-se, assim, dois regressos ao palco AdE: o da Orquestra Clássica de Espinho e do Jeffery Davis.
Os bilhetes para este concerto estão à venda aqui ou na bilheteira local, na Academia de Música de Espinho.